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A origem da água na Terra sempre gerou debate entre os pesquisadores. Nos anos 1960, imaginava-se que os cometas poderiam ser a origem da água no planeta, mas dados obtidos pela sonda espacial Giotto ao passar pelo cometa Halley em 1986 alteraram essa percepção. No entanto, uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (5) no periódico científico Nature retoma a visão da década de 1960, considerada ultrapassada.
Liderado por Paul Hartogh do Instituto Max Planck na Alemanha, o trabalho analisou pela primeira vez a relação entre a quantidade de deutério (também chamado hidrogênio pesado) e hidrogênio em um cometa da chamada família de Júpiter, um grupo dos corpos celestes que teve sua órbita modificada pelo planeta gigante.
“Observamos pela primeira vez um cometa desta família que, acredita-se, tenha se originado no cinturão de Kuiper [que começa depois de Netuno]. Descobrimos que a relação entre deutério e hidrogênio no cometa que observamos (o 103P/Hartley 2) é exatamente a mesma que existe nos oceanos da Terra. Logo, sim, os cometas podem ser mesmo a fonte de água na Terra ou ao menos podem ser responsáveis por boa parte dela”, explicou Hartogh ao iG.
Pode parecer estranho, mas, no início, a Terra era um local seco devido às altas temperaturas que faziam com que substâncias voláteis evaporassem. Até agora, acreditava-se que asteroides haviam cumprido a missão de trazer água a maior parte da água para a Terra ao colidir com ela há cerca de 3,9 bilhões de anos – a relação deutério/hidrogênio dos asteroides se encaixa perfeitamente na que é encontrada na Terra.
Os cometas haviam sido deixados de lado pois esta mesma relação não batia para eles. A questão toda é que os seis cometas analisados até este estudo vinham de uma outra região do sistema solar, da chamada nuvem de Oort (uma região que está mais distante ainda do que o cinturão de Kuiper). “Nossa descoberta vai ajudar, por exemplo, a aperfeiçoar nosso modelo de evolução do sistema solar”, afirmou Hartogh. E completou: “O próximo passo da pesquisa será tentar detectar essa relação deutério/hidrogênio em um número maior de cometas, especialmente os da família de Júpiter”.
Os dados analisados no estudo foram obtidos pelo observatório espacial Herschel há cerca de um ano quando o Hartley 2 passou “perto” da Terra e permitiu que os instrumentos dele captassem as informações. (Fonte: Alessandro Greco/ Portal iG)